Os nomes Priorat e Montsant são recentes no mundo do vinho. Lembro bem quando começaram a circular como regiōes em que se devia prestar atenção. A sua história, quase milenar, era de vinhos para consumo local.
Quando estive a última vez por lá, visitei um dos pioneiros, René Barbier, foi ele, com mais uma caravana meio hippie, que seguiu para o local, na Catalunha profunda e no meio daquela licorella (são lascas de ardósia azul impressionante) foram arrancando vinhos cada vez melhores de uvas como Cariñena, Garnatxa, Syrah, Marsanne, Roussanne. Daí veio a fama, os pontos altos, os preços idem, e a D.O. passou a ser a segunda D.O.Ca do estado espanhol (a outra é a Rioja, este Ca. quer dizer calificada).
Lembro que esgotei o papel do banheiro no aeroporto de Barcelona na volta, tentando limpar meus sapatos da poeira fina que tinha grudado neles. Não consegui, aquelas lindas montanhas e vales são terra para gente e uvas resistentes, até hoje aquele par de sapatos deve ter poeira do Priorat.
[Vinhedo de Josep Grau no Priorat, paisagem assim tem que dar vinho bom]
Bem, como se imagina os preços de terras lá ficaram altíssimos e a qualidade dos vinhos se ampliou para o entorno, igualmente bom para vinhos mas ainda pagável: Montsant.
Nosso vinho de hoje no roteiro pelo catálogo da World Wine é um Montsant, um vinho encantador: L’efecte Volador, Josep Grau Viticultor. Grau se estabeleceu primeiro em Capçanes e foi crescendo. O vinho é o primeiro que fica pronto, pois é fermentado em inox e não estagia em carvalho, daí o nome de “voador”, decola antes dos demais.
Blend muito fresco e frutado de Garnatxa (60%), Carignan (30%) e Syrah (10%). Para beber gelado, com um lindo aroma de flores campestres, alcaçuz, pimenta, um resumo olfativo daquela querida terra catalã. Os puristas vão notar oscilações no texto, um momento escrevo Grenache, noutro Garnacha e noutro Garnatxa, por exemplo. Paciência, é que na Catalunha assim do interior sóse fala catalão, e difere a escrita também. És catalá, és bó.
Eu me apaixonei pelo Volador, gosto cada vez mais destes vinhos que se apresentam logo, saiu da geladeira (olhos arregalados entre os leitores) assim que terminei de fazer meu frango xadrez à moda de Sichuan e foi um encontro de perfeiçāo.
Em lugar de pedir delivery de frango xadrez é mais fácil e gostoso fazer. Coloco um pouco de um óleo de Sichuan, que compro numa mercearia chinesa da Liberdade, sim, chinesa. O Gordowu quando conheci era como ir a um filme no Barri Xino de Barcelona pré-olímpica, com o detetive Pepe Carvalho me acompanhando pelas ruas escuras e perigosas (fica na Conselheiro Furtado, mas um pouco de imaginação dá cor ao ambiente). A mercearia era um amontoado de coisas e ninguém falava português, só chinês. Agora é um supermercado, mais arrumado e traduzido. Não vivo sem este óleo de pimentas Sichuan, sem o vidro de feijões fermentados e sem os talos frescos de algo que chamo de cebolinha.
[Mercearia Gordowu]
Para resumir, frango xadrez picante (a pimenta sichuanesa não pica, ela adormece levemente o palato) com amendoins, feijões e esta “cebolinha” fresca por cima, tudo no wok e com um El Volador gelado fazem a vida melhor.
Qualquer dúvida tenho 2 livros da excelente autora inglesa Fuchsia Dunlop, que resolve qualquer questāo sobre a sofisticada e variada comida da China, muito além das caixinhas trazidas pelo motoqueiro.
Agora quero provar os outros vinhos de Josep Grau. Sujeito assim feliz faz vinhos alegres e de qualidade.
[Josep Grau e sua família envolvidos todos na produçāo de vinho]
Volador 2022, J.Grau importado pela World Wine, R$180