Nāo está fácil escrever, nāo está fácil nem mesmo me mexer com este clima e a tosse que o acompanha (mesmo com o umidificador produzindo sua névoa benfazeja para os pulmões ressecados). Mas a cabeça quer fazer hortaletters e os assuntos se acumulam. Chega de reclamar, vamos ao teclado.
Sou fā da Viña Tarapacá, já escrevi um post sobre ela, dormi no velho casarāo, se a claudicante memória nāo erra, três vezes. A última foi em 2018 e tive uma linda aula, dada por Sebastián Ruiz e sua equipe de campo, sobre o trabalho exemplar que estāo fazendo.
[Sebastián Ruiz e o casarāo da Tarapacá, na gala dos 150 anos. Foto do instagram dele]
Em geral se reflorestou muito pelo mundo apenas pela quantidade de árvores plantadas, contava o volume e nāo o que era plantado. Com isto criaram florestas de eucaliptos, e daí algumas tragédias no solo e outras, ainda piores, no ambiente. Lembro de um desastre horrível acontecido em Portugal, na estrada que cruzava uma destas “florestas” de eucaliptos, que queimam como pólvora e calcinaram os veículos que transitavam naquele momento; é o incêndio pret-a-porter, nāo há tempo nem de tentar fugir.
O que fez a Tarapacá? Reflorestou recriando a mata original, uma beleza de projeto, voltaram as aves, voltaram os insetos que pertenciam àquele lugar. Entre eles um predador natural da aranhinha que atacava as uvas. Isto livrou o vinhedo da praga de modo natural, sem necessidade de nenhum produto.
Tarapacá faz parte de minha vida de consumidor, quando comecei em 1985 a levar o assunto vinho a sério, eles já estavam aqui, com suas garrafas, que sempre apreciei. Agora, investigando o seu terroir mais nobre (que cerca o casarāo) cavaram cerca de 90 calicatas, entenderam fisicamente a composiçāo de cada parcela do terreno, além do intuitivo que guiara a produçāo até entāo.
Lembro, depois de meia garrafa de meu estimado Etiqueta Negra Cabernet Sauvignon (bom, mais de meia garrafa confesso, mas foi jantando…) ter anunciado que ia dar uma volta pela propriedade, estava 3°C e havia uma lua enorme no céu. Sebastián Ruiz apenas relembrou: tem 90 calicatas por aí…fácil sumir num buraco. Desisti e ele abriu outra garrafa do “meu” vinho.
[o querido Etiqueta Negra Cabernet Sauvignon]
Enfim, tudo isto é para dizer duas coisas, a vinícola faz 150 anos e lança uma garrafa especial comemorativa da data e eu continuo colocando seus vinhos, em especial o maravilhoso Cabernet Sauvignon, entre meus prediletos. Mas, eles produzem ampla linha em todas faixas de preço, sempre com zelo pela qualidade.
[A ediçāo de 150 anos, blend de 68% Cabernet Sauvignon, 30% Syrah e 2% Cabernet Franc]
Parabéns e que venham mais e mais safras bem sucedidas (em tempo, quem estiver na ProWine, os vinhos Tarapacá e o simpático e talentoso enólogo Sebastián Ruiz estarāo no stand da importadora Epice . Visitem).