Quem escreve sobre vinhos também tem suas escolhas, fazer o que, o gosto é humano, apenas procuro ser rigoroso nas minhas avaliações, sem deixar minhas predileções interferirem. Falar do Douro, como semana passada, me impele a falar dos vinhos do Porto.
Mas, se estou “à paisana”, ou seja, não numa mesa de degustação, apenas jantando com amigos ou diante da carta de vinhos de um restaurante, vou escolher o que tenho vontade, o que acho que vai combinar com a comida ou o que gosto muito. E gosto muito de vinhos do Porto Tawny.
Para não ficar explicando demais, vou falar de 2 famílias amplas: a Ruby e a Tawny. Basicamente são feitos do mesmo modo, só que os Ruby são menos expostos ao oxigênio, quer em imensos toneis, quer em inox. E os Tawny em recipientes menores de carvalho, fazem maior troca com oxigênio ambiente. Os Ruby são vermelhos vivo, cor rubi, os Tawny, que sofrem a ação oxidativa, são acastanhados, marrom claros, até levemente acobreados.
Não é simples, eu sei, e depois há os demais de cada família, os LBV (Late Bottled Vintage), os Vintage; os Tawny 10, 20, 30, 40 anos…
O mais antigo Porto que bebi foi durante um leilão na Torre de Londres, de uma garrafa do chamado Porto Wellington, que comemorava os 200 anos da batalha de Waterloo. Não bebi deste, era uma única garrafa, fechada em decanter lapidado de cristal e numa caixa especial. Mas, durante o leilão, serviram generosamente um 1830.
Nesta viagem de sonhos tive a companhia do maior especialista em Portos do Brasil, talvez de Portugal também, o amigo Carlos Cabral, e aprendi mais que numa pós-graduação.
Voltemos ao mundo real. Desde criança havia vinhos fortificados na casa das tias. Elas gostavam de Portos, de Madeiras, de Moscatéis de Sétubal. As garrafas ficavam num armarinho para quando fizesse frio. E quase todos os dias, por volta das 18 horas, sentiam muito frio, e se permitiam um cálice antes do jantar.
O vinho de hoje, no passeio pelo catálogo da World Wine, é um ótimo Porto Tawny de entrada: Fonseca. Tem todos aqueles atributos dos Tawny, aromas de frutos secos, de figos, de tâmaras, de madeira antiga, a complexidade na boca entre doce e acidez e ficam deliciosos com queijos de massa mais dura, como um Canastra curado, ou com amendoas, avelãs, nozes, delícia de aperitivo. Também com sobremesas e o bate-papo que se segue ao jantar. O preço é ótimo e dura na geladeira (em tempo, devem ser servidos bem frios).